Você já imaginou a quantidade de comida que todos nós jogamos fora todos os dias durante nossa vida? Inovadores de todo o mundo estão buscando maneiras de transformar o desperdício de frutas e alimentos em artigos de moda, criando novos tecidos e materiais sustentáveis para roupas, sapatos e bolsas. Seus esforços podem ajudar a salvar o planeta e a criar a moda do futuro.

O Programa das Nações Unidas para o Ambiente estima que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos vão parar no lixo a cada ano. Recentemente, o Ministério da Agricultura e da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos lançou um desafio: uma iniciativa que apela para uma redução de 50% no desperdício de alimentos até 2030.

O upcycling, que neste caso significa encontrar maneiras inovadoras de abordar o desperdício de alimentos, vem ganhando força como a crescente pressão para diminuir a quantidade de alimentos e subprodutos vão parar nos aterros por estarem estragados, mas graças as novas tecnologias podem ser reaproveitados.

Uma prática upcycling que está sendo desenvolvida nos laboratórios de novos materiais das Universidades e Centros de Pesquisa é a conversão das cascas de laranja, cascas de coco, folhas e cascas de abacaxi, cascas e troncos de bananeira, restos de alimentos orgânicos, borra de café e leite azedo em novas fibras adequadas para uso em vestuário. Estas novas fontes de fibras para tecido e vestuário são bem mais sustentáveis do que o poliéster não-renováveis, à base de petróleo.

Os tecidos upcycled trazem sustentabilidade à indústria da moda, que é a 5º indústria mais poluente do mundo, diminuindo também os alimentos nos aterros. A moda do futuro não será feita só de tecidos inteligentes e multifuncionais mas também de tecidos sustentáveis fabricados com alta tecnologia reaproveitando todo material orgânicos que seria jogado fora. É a bioeconomia circular onde os resíduos alimentares se tornarão o “último grito da moda” em alguns anos.

A moda do futuro será feita dos resíduos de frutas e alimentos descartados stylo urbano-1
Com a bioeconomia, aquilo que é visto como lixo poderá se tornar uma matéria prima valiosa para a indústria têxtil.

Vários pesquisadores inovadores pelo mundo todo estão desenvolvendo novos materiais feitos de resíduos alimentares para moda e decoração, e em alguns anos, estilistas e designers terão a disposição os mais diferentes materiais e tecidos sustentáveis para escolher feito de resíduos de frutas e alimentos descartados. A ideia é desenvolver tecidos e materiais inovadores com uma pegada ambiental menor e também reduzir o excesso de dependência da indústria da moda com o algodão convencional e poliéster virgem, as duas fibras mais poluentes utilizadas pela indústria. Eis alguns exemplos!

Fibra de laranja

A Startup italiana Orange Fiber utiliza os resíduos de citros, um subproduto da indústria de suco italiana para produzir fibras têxteis de alta qualidade com um baixo impacto ambiental. A Sicília tem uma grande produção de suco de frutas cítricas, que a cada ano também deixa cerca de 700 toneladas de resíduos. As duas co-fundadoras da Orange Fiber, Adriana Santanocito e Enrica Arena, viram o potencial nisso e desenvolveram um sistema onde o bagaço da laranja, um subproduto da indústria de suco da Sicília, se tornam fibras de celulose de alta qualidade.

A nova fibra da Orange Fiber representa uma oportunidade para se fabricar tecidos ecológicos “Made in Italy” para moda e decoração sem a concorrência chinesa. A nova fibra de laranja não só é sustentável, pois utiliza os resíduos da laranja que eram jogados fora, mas também é benéfica para a saúde, pois libera pequenas quantidades de óleo cítrico e vitamina C na pele ao longo do tempo, deixando a pele macia e hidratada segundo as pesquisadoras Adriana e Enrica.

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A nova fibra da Orange Fiber foi premiada no Global Change Award 2015, um evento criado pela Fundação H&M para premiar as 5 melhores tecnologias disruptivas sustentáveis para a indústria da moda. A cadeia de fornecimento da fibra de laranja passa pela fiação, tecelagem e acabamento, contribuindo para a prática da moda sustentável e o desenvolvimento econômico, social e ambiental da Sicília. Essa tecnologia oferece a oportunidade de satisfazer a necessidade crescente de celulose para a indústria têxtil, preservando assim os recursos naturais. Este processo reutiliza resíduos, economiza terra, água e poluição ambiental.

A transformação química dos resíduos do bagaço de laranja em fibra têxtil seria primordial para a economia do Brasil que é o maior produtor e exportador de suco de laranja do mundo faturando em 2015 US$ 1,8 bilhão. De cada dez copos de sucos bebidos no mundo, seis são de origem brasileira. A produção de laranjas no país movimenta o campo e a indústria e emprega mais de 200 mil brasileiros. Esse é só mais um dos exemplos da importância da bioeconomia para o Brasil e o mundo.

A tecnologia desenvolvida pela Orange Fiber para extrair a fibra de celulose do bagaço da laranja pode ser utilizada para fazer o mesmo com os resíduos de outras frutas com algumas modificações no processo de produção.

https://www.facebook.com/dw.brasil/videos/10154968955928520/?hc_ref=ARQtEroxai5Ozrh1Oogs_FanxVpMu3khcG_5a_rDXpb9HSuzd0I68izyE-l3fJS-3QY

Couro de fibra de abacaxi

Criado em 2013 pela Dr Carmen Hijosa da Espanha, a Ananas Anam Ltd desenvolve, fabrica e vende o “couro vegetal” Piñatex a partir de sua sede em Londres. A empresa tem sido reconhecida dentro da indústria da moda como uma pioneira no desenvolvimento de produtos têxteis inovadores e sustentáveis feitos da fibra do abacaxi. A base do Piñatex é um não tecido feito das fibras retiradas das folhas de abacaxi que depois recebe uma cobertura especial para dar o aspecto de couro.

O Piñatex é um couro vegano inovador cuja produção não utiliza qualquer terra adicional (as fibras de abacaxi contidas nas folhas são um desperdício agrícola), como tal, não requer água, fertilizantes ou pesticidas. Como resultado, é um material natural, com fortes valores ambientais e sociais. Dr Carmen Hijosa foi uma das 10 finalistas do concurso internacional de negócios Cartier Womens Initiative Awards. Veja mais sobre as possibilidade da fibra do abacaxi na moda aqui e aqui.

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Fios sintéticos feitos de alimentos descartados

Um novo processo de biorrefinaria desenvolvido por cientistas bioquímicos da Universidade da Cidade de Hong Kong (CityU) consegue transformar o desperdício de alimentos em novas fibras têxteis biodegradáveis. O revolucionário processo ganhou medalha de ouro com louvor do júri na 44ª Exposição Internacional de Invenções de Genebra em 2016. Esta tecnologia inovadora pode ser a solução definitiva para reciclar as 3.600 toneladas de resíduos de alimentos produzidos em Hong Kong a cada dia.

Liderada pela Dr. Carol Lin Sze-ki, professora assistente na Escola de Energia e Meio Ambiente da CityU e uma especialista na transformação de resíduos em recursos renováveis, a equipe de investigação tem convertido com êxito 100 gramas de resíduos alimentares em 10 gramas de fibras de ácido polilático (PLA) dentro de uma semana. A tecnologia está sendo refinada para ter custos competitivos e ser aplicada em larga escala pela indústria têxtil, dando um fim ao problema dos resíduos de alimentos processados além dos resíduos de vegetais e frutas. Veja a matéria completa aqui.

Pesquisadores e startups estão criando novas tecnologias para trasformar os resíduos alimentares que antes iam parar no lixo em novos tecidos e materiais para moda e decoração. A sustentabilidade e transparência estão caminhando para se tornar uma norma na indústria da moda e quando estiver usando uma roupa você poderá ouvir:

“Que fruta você está vestindo hoje?”

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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