Um artigo perspicaz sobre os diferentes impacto ambientais da produção de algodão e fibra de poliéster (aqui), concluiu que a fibra de poliéster reciclada, produzida a partir de garrafas PET descartadas, é possivelmente mais sustentável do que a fibra de algodão orgânico, que por sua vez, é ambientalmente mais sustentável do que o algodão convencional. Será mesmo?

Estamos enfrentando mudanças climáticas, o exploração inconsequente dos recursos naturais e os aterros sanitários lotados. Talvez seja a hora de pensar ainda mais sobre reciclável do que renovável. E como o estudo conclui: a fibra de poliéster reciclada “produzido a partir de produtos têxteis de poliéster existentes, atende ou excede a qualidade de poliéster virgem”, mesmo depois de reciclá-lo várias vezes, uma e outra vez.

Eu só não concordo com o estudo quando diz que o “suprimentos de petróleo está encolhendo”. Eu não sei de onde tiraram isso pois o petróleo está com o valor do barril super baixo por causa da superoferta de petróleo, principalmente pela exploração das imensas reservas de petróleo pelo fraturamento hidráulico que tornou os EUA no maior produtor de petróleo do mundo, superando a Arábia Saudita e a Rússia.

O país já cobre 90% de sua demanda interna. Sem falar que o petróleo não é de origem fóssil, ele é abiótico (não fóssil) e continuará a ser gerado ininterruptamente pela Terra e é inesgotável. Essa mentira inventada pela indústria do petróleo já em 1919 de que ele é um produto “não renovável” e um “recurso escasso” foi feito para se criar uma “escassez artificial” e poder manipular seu preço cobrando mais caro. Tudo se resume a uma única coisa: Dinheiro e poder.

O poliéster poderia ser o próximo tecido ecologicamente correto?

De todas as fibras, o poliéster tem a pior reputação. A realidade é que, mesmo se todas as roupas no mundo fossem feitas de fibras orgânicas e naturais, a sua produção exigiria mais terras aráveis, mais água e energia para serem produzidas. Não tem como ter um tecido 100% sustentável pois tudo exige recursos do meio ambiente.

Muitas pessoas não percebem que quando se trata de verdadeiro impacto ecológico de uma fibra, seu material de origem é apenas uma parte de uma problema muito maior, em que a utilização e eliminação também desempenham um papel significativo. Na verdade, elas representam cerca de 50% a 80% da pegada total da peça de vestuário.

“Uma fonte de fibra de vestuário representa apenas

uma parte do seu impacto ambiental” 

Obviamente que a fibra de poliéster tem seus problemas, especialmente uma vez que é derivada de recursos petrolíferos não biodegradáveis. Mas essas características negativas muitas vezes ofuscam o fato de que as roupas de poliéster funcionam muito bem, necessitando menos recursos na sua fase de utilização.

Uma peça de vestuário de poliéster pode ser usada muitas vezes e, em seguida, lavada em água fria e seca rapidamente no varal. Ela não precisa de passar, não amarrota e não se desgasta facilmente, pode ser estampada por sublimação que economiza mais água e por isso é tão utilizada na moda esportiva e de fitness. Fibra de poliéster não necessita de terras aráveis e nem tanta mão de obra para ser produzido como o algodão.

Poliéster reciclado e poliéster vegetal

Embora o poliéster não seja biodegradável, ao final de sua fase de utilização ele pode realmente ser reciclado e obter uma qualidade tão boa quanto o material virgem (algo que não pode ser dito das fibras naturais recicladas que vão perdendo a qualidade).

A empresa química japonesa Teijin, é especializada na reciclagem química de roupas e tecidos de poliéster desgastado para fabricar novos tecidos e assim sucessivamente. A empresa deu o nome do processo de Eco Circle. O vídeo abaixo mostra o processo Eco Circle onde as roupas velhas de poliéster da Patagonia são recicladas em novos fios de poliéster.

Além disso, esta tecnologia reduz o consumo de energia e as emissões de CO2 drasticamente quando comparado ao uso do petróleo para fazer uma nova matéria prima de poliéster. Outra empresa japonesa chamada Toray, desenvolveu um poliéster biodegradável feito a base de vegetais, mais especificamente o melaço de cana de açúcar, chamado ECODEAR.

O poliéster proveniente do petróleo não é biodegradável, podendo levar até 400 anos para se decompor na natureza, por isso deveríamos acabar com a fabricação de polímeros à base de petróleo e substituí-los por biopolímeros à base de plantas para se criar bioplásticos e poliéster como fizeram as empresas americanas Virent e NatureWorks, e também a Universidade de Nebraska que utilizam os açúcares da beterraba e milho para criar novas fibras sintéticas vegetais para tecidos de poliéster.

O poliéster do futuro será feito 100% à base de plantas e da mesma forma que o feito de petróleo, poderá ser reciclado infinitas vezes.

“Ao contrário do algodão, o poliéster pode ser reciclado várias vezes e tem uma qualidade tão boa quanto o poliéster virgem” 

A origem de um material é apenas uma parte do seu impacto ambiental, pois quantas vezes ele teve que voar ao redor do mundo antes de chegar a você, quanta água foi utilizada para ele crescer … essas coisas significam que a produção de uma roupa nunca é tão simples.

O poliéster reciclado se baseia em um sistema de circuito fechado onde nenhuma fibra virgem é produzida e qualquer poliéster existente no mercado atualmente pode sempre ser reciclado no final da sua vida útil. Nas tecelagens mais avançadas, os tecidos de poliéster podem ter uma textura, acabamento e toque suave que lembra tecido de algodão.

O vídeo abaixo da marca Patogonia mostra o processo de fabricação do poliéster a partir das garrafas PET que se transforma no tecidos de suas roupas. (Vídeo em inglês)

Problemas de imagem

As origens do poliéster não carregam a ressonância emocional que as fibras naturais tem. Voltando na década de 1960, os fabricantes reconheceram essa crítica e em resposta criaram misturas híbridas de fibras naturais e sintéticas. Essas misturas infelizmente ainda são feitas e do ponto de vista ecológico são consideradas um estorvo, uma vez que sua reciclagem é impossível com as máquinas de reciclagem mecânicas. Não dá para separar as fibras de algodão e poliéster dos tecidos mesclados que também não se degradam totalmente nos aterros.

Os tecidos de poliéster reciclado são vistos como uma ótima alternativa para a moda sustentável mas infelizmente as coisas não são tão simples como parecem. Pesquisadores descobriram que as microfibras usadas para fazer roupas de lã sintética estão contaminando os animais marinhos, onde até 1.900 fibras individuais pode sair na lavagem de uma única peça de vestuário sintético, muitos deles pequenos demais para serem captados por estações de tratamento de esgoto e, portanto, acabam no oceano. As roupas felpudas feitas de fios de poliéster ou acrílico são as que mais soltam microfibras na máquina de lavar.

O que fazer agora?  Criar novos acabamentos aplicados sobre os tecidos sintéticos para impedir que as microfibras saiam na lavagem? Criar novas máquinas de lavar com filtros eficazes que capturam todas as microfibras? Reciclar as garrafas PET em tecidos para sapatos, bolsas ou barracas de camping que não precisam ser lavados  tanto quanto as roupas?

O fato é que criar uma moda sustentável tem inúmeros desafios. A reciclagem de toneladas de garrafas de plástico em novos tecidos é louvável, pois é muito melhor do que essas garrafas serem descartadas nos aterros, rios e mares mas o impacto ambiental do poliéster de petróleo ainda continua mesmo com os tecidos de PET reciclados. O que fazer agora só uma nova tecnologia pode resolver.

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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