Nos países Ocidentais, o denim é o tecido mais amado pelos consumidores e cultuado pelas revistas, estilistas e marcas de moda, mas na África, são os tecidos de algodão com estampas coloridas imitando o batik indonésio que fazem sucesso. A empresa holandesa Vlisco é a mais antiga marca internacional especializada em tecidos de cera e domina o comércio de moda da África Ocidental desde 1846.

É um paradoxo que uma das maiores empresas de vestuário da África está sediada numa pequena cidade na Holanda. Fundada em 1846 pelo empresário holandês Pieter van Vlissingen, na antiga cidade têxtil de Helmond, a Vlisco originalmente vendia tecidos impressos à mão nas rotas comerciais da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Esses tecidos, que usaram processo industrial europel para acelerar e baratear os demorados processos artesanais do batik de cera da Indonésia, foram trocados durante escalas comerciais no oeste da África e se tornaram altamente procurados no continente.

A Vlisco não pretendia se tornar o principal fornecedor de tecidos de cera para a África Ocidental e Central, pois originalmente, eles estavam interessados no mercado da Indonésia. A antiga técnica do Batik com tingimento de cera aplicada sobre tecido leva muito tempo para produzir, mas Pieter e seu tio desenvolveram técnicas para produzir em massa seus tecidos de Batik, que eles achavam que venderia bem na Indonésia, mas os indonésios não ficaram impressionados. O tecido podia ser mais barato do que o original feito artesanalmente, mas também parecia ser inferior. A produção em massa agravou o efeito de craquelê, que foi visto como uma imperfeição.

Mas os compradores da África Ocidental e Central preferiram essas imperfeições porque significava que nenhum tecido era o mesmo. Além disso, a impressão frente e verso era perfeita para estilos de moda tradicionais. Os navios que transportavam produtos da Vlisco para a Indonésia faziam paradas na costa da África para trocar alguns dos tecidos por alimentos e outros itens essenciais para a viagem. Lá, os tecidos de impressão de cera não eram uma cópia barata de um original local, mas um item de luxo único que hoje é chamado de “Chanel da Africa”.

Em 1930, a Vlisco se tornou a maior marca de moda de luxo na África Ocidental e Central, e em 2016, a empresa vendeu mais de 70 milhões de metros de tecidos e faturou cerca de US $ 400 milhões exportando seus tecidos estampados por todo o continente africano, mas a Vlisco também vende seus tecidos em lojas de Berlim, Nova York, Paris, Tokyo, Amsterdã entre outras.

Como a empresa holandesa Vlisco se tornou a marca de moda mais popular da África stylo urbano-1

Os tecidos estampados da Vlisco possuem diferentes nomes e significados simbólicos em diferentes países da África e seu arquivo chega a 300.000 estampas, algumas continuam sendo best-sellers. Em Togo, país africano, as mulheres que vendiam os tecidos da marca holandesa ficaram conhecidas localmente como “Mama Benz” porque ficaram ricas o suficiente para possuir os primeiros carros Mercedes-Benz do país e se tornaram influentes politicamente e socialmente.

A Vlisco se reinventou em 2006, como uma marca de moda e já fez uma série de colaborações bem sucedidas com marcas famosas como Junya Watanabe, Jean Paul Gaultier, Dries van Noten, Comme des Garcons, Viktor & Rolf , Stella McCartney, Woolrich, Manish Arora, Eastpak, Adidas, Printemps e produz coleções cápsulas com diversos estilistas africanos. A empresa possui lojas em grandes cidades africanas apresentado aos clientes suas coleções de roupas, sapatos, bolsas e acessórios.

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As mulheres africanas comemoram sua individualidade através da moda, e as clientes da Vlisco levam os tecidos aos estilistas locais e costureiras para criar sua própria roupa exclusiva, como se fazia no Ocidente antes da explosão do fast fashion. Essas roupas não apenas celebram o estilo individual das mulheres africanas, mas aos tecidos são atribuídos nomes e significados para comunicar informações sobre as mulheres que os usam, significados que são criados pelas mulheres que vendem e usam os tecidos.

Como a empresa holandesa Vlisco se tornou a marca de moda mais popular da África stylo urbano-2

As vendedoras locais atribuíram nomes e histórias aos tecidos para promover e vender melhor seu produto. Elas deram a cada estampa o significado local e cultural, incorporando verdadeiramente a marca na cultura local. Mas o significado dado a algumas impressões também forneceu uma maneira para o usuário comunicar algo sobre si mesma. A empresa possui quatro marcas distintas.

Vlisco é a marca de luxo que além de tecidos produz cachecóis e bolsas de luxo, ainda produzida na Holanda. Uniwax e GTP são produzidas respectivamente na Costa do Marfim e em Gana e visam a classe média. A Woodin é a marca unissex mais nova e de mais rápido crescimento da empresa, é produzida em Gana e tem como alvo consumidores jovens. Os gostos dos clientes variam na África como na Europa. Algumas estampas são populares em regiões específicas, muitas vezes influenciadas por eventos locais ou eventos históricos.

A Vlisco é tão icônica que suas estampas foram mostradas em museus como o Museu de Arte da Filadélfia e  Museu Helmond no sul da Holanda.

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Vlisco lança serviço de alfaiataria especial Pret-à-Couture 

A Vlisco lançou em Gana um serviço de costura premium chamado Prêt-à-Couture como parte de seu compromisso de ajudar os clientes a obter o designer certo ou alfaiate para uma roupa perfeita. As clientes simplesmente escolhem seu tecido favorito da loja Vlisco no Accra Mall ou no Westhills Mall, escolhem numa pasta ou mostruário o modelo de roupa, tem suas medidas tomadas, e depois recebem sua roupa perfeitamente adaptada pouco depois.

O objetivo do serviço de alfaiataria é satisfazer as clientes dando-lhes uma boa relação custo-benefício para permanecerem fiéis a marca. A empresa aposta na moda personalizada para que cada cliente se sinta única. A blogueira Afua Rida do blog de moda Stylista mostra nos videos como funciona o serviço.

Fonte: Messy Nessy Chichow we made it in africa

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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