Na Holanda, a reciclagem de resíduos de materiais como vidro, plástico e papel é comum, mas as roupas e jeans velhos que são descartados geralmente acabam no lixo. Para solucionar isso, os pesquisadores Gerrit Bouwhuis e Ger Brinks da Universidade de Saxion, desenvolveram uma nova fibra chamada SaXcell, para aproveitar as 25 milhões de toneladas de resíduos de algodão produzidos anualmente.

SaXcell, uma abreviatura de Saxion celulose e é uma fibra têxtil regenerada feita a partir de resíduos de algodão doméstico reciclado quimicamente. O processo para aproveitar os resíduos de algodão é um passo crucial na cadeia têxtil circular.

Nova fibra reciclada

Devido ao crescimento populacional e à crescente prosperidade gerada pelas novas tecnologias, a reciclagem de roupas tornou-se uma obrigação. Os pesquisadores da Saxion conseguiram desenvolver um fio quimicamente reciclado feito 100% de resíduos de algodão. Isso é feito extraindo a celulose dos resíduos de algodão e transformando-a numa nova fibra. Cerca de 600 milhões de Kg de resíduos têxteis na Europa, com alto teor de celulose, podem agora ser reciclados em SaXcell graças a tecnologia de reciclagem química.

“Nós chamamos isso de fibra virgem. É como uma fibra que ainda não foi processada”, diz Ger Brinks. 

Fábrica

Tecnicamente e esteticamente, a roupa feita com fio SaXcell não é diferente da roupa feita de outros materiais e terá preços competitivos. No momento, estão sendo criados fundos para a criação de uma fábrica nos próximos três anos. “Precisamos de uma fábrica nossa, pois se realizarmos ensaios e pesquisas em fábricas pertencentes a outras empresas, isso nos custará muito tempo, dinheiro e conhecimento” disse Gerrit Bouwhuis. Segundo os pesquisadores, muitas pessoas fora da Saxion estão entusiasmadas com a nova fibra e os fabricantes de fibras também mostraram interesse na pesquisa.

Material inteligente e funcional

Bouwhuis e Brinks são membros do grupo de pesquisa Saxion Smart Functional Materials, com sede em Enschede na Holanda. Eles começaram sua pesquisa do zero em 2011 e a Saxion os ajudou a transformar sua ideia num produto que ajuda a impulsionar uma nova era da moda circular.

Como é feita a produção do SaXcell

A produção do SaXcell começa com a classificação dos resíduos têxteis domésticos de algodão em um fluxo de resíduos. A classificação pode ser feita à mão ou com o Identitex (uma técnica ainda em desenvolvimento). Em seguida, o fluxo de resíduos puro é moído e os componentes não têxteis, como fecho de correr, zíper e botões são removidos. O resultado é uma mistura de fibras têxteis secas com diferentes comprimentos de fibras.

Todos os comprimentos de fibra, longas e curtas, são adequadas como matéria-prima para o SaXcell. A mistura seca de diferentes cores é quimicamente descolorida e adaptada para o processo de rotação úmida. A fiação úmida pode ser feita de acordo com processos de Viscose ou Lyocell. Isto significa que a nova fibra pode ser produzida com poucos ajustes nas configurações das máquinas em instalações existentes na Europa e no mundo inteiro.

O produto final desta etapa é o SaXcell, uma fibra de celulose virgem regenerada. A fibra pode ser cortada em comprimentos especificados, girados em fios e tecidos ou tricotados em tecidos. O tingimento pode ocorrer na fibra, no fio ou no tecido. O objetivo para o futuro é aumentar a escala da produção de fibras e criar produtos finais valiosos. 

O futuro é a moda circular

Existe um excelente futuro para a reutilização de têxteis. A Holanda tem uma forte tradição na indústria têxtil e conhecimento no processamento têxtil. O SaXcell é uma ruptura tecnológica a partir da qual uma indústria têxtil completamente nova pode ser fundada. Uma indústria têxtil inovadora, orientada para o futuro e sustentável, baseada na economia circular. O apoio das marcas varejistas é necessário para levar essa nova fibra ao mercado de massa.

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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