A industria da moda global vale US$ 3 trilhões mas seu modelo de negócios está quebrado. Demora de 6 a 12 meses para colocar um produto no mercado (embora haja algumas exceções); é baseado em tecnologia desenvolvida principalmente nos anos 90 ou anteriores; sufoca em vez de possibilitar inovações; e seu impacto neste planeta é impressionante. A indústria da moda não mudou nos últimos 25 anos, com duas grandes exceções, o comércio online e logística de “última milha”.

Ela sobreviveu a dois grandes choques (11 de setembro e a crise financeira de 2008), e agora passa pelo maior de todos, a pandemia do coronavírus. Enquanto isso, o mundo em que vivemos, a tecnologia que desenvolvemos e a interconexão de economias e sociedades não se parecem em nada com a de 25 anos atrás. Essa crise é uma evidência clara de que todos somos afetados (e infectados) pelas crises políticas, econômicas, sociais e de saúde e nos tornaremos cada vez mais no futuro. Mudanças sistêmicas reais não acontecerão se os investidores e as empresas continuarem focando na inovação incremental na última milha. Precisamos reimaginar os milhões de quilômetros antes disso.

Nenhum estoque

Se você realmente deseja revolucionar a indústria da moda, faça tudo sob demanda. Imagine toda a indústria da moda sob demanda:

  • Os fabricantes não teriam estoque inútil fora da estação. Eles poderiam pausar suas fábricas em um instante, reiniciar em alguns dias e mudar sua fabricação para um mix de produtos atual.
  • Os varejistas não tomariam mais decisões de compra seis meses antes de precisarem de estoque. Toda a mercadoria da loja seria reabastecida várias vezes por semana diretamente das fábricas, minimizando a exposição ruim ao estoque.
  • As marcas tornariam quase todos os elementos de seus negócios variáveis. Eles aumentariam ou diminuiriam a oferta de seus produtos dinamicamente, com base na demanda do mercado. Não haveria armazéns (os produtos são enviados da fábrica para o cliente), nenhuma liquidação por excesso de estoque, produtos esgotados e dinheiro amarrado em mercadorias não utilizáveis.
  • A moda seria muito mais sustentável. Estimativas conservadoras afirmam que 30% de todos os produtos fabricados a cada ano nunca são vendidos e acabam em aterros sanitários ou são incinerados. A sustentabilidade real e impactante começa com a produção da quantidade certa de produto.
  • As empresas teriam menos despesas gerais e mais automação. Mas o setor seria saudável, criando mais oportunidades para trabalhadores e investidores.

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Uma cadeia de suprimentos em rede transparente e distribuída

Produção sob demanda significa que um produto existe apenas quando é desejado. Produção distribuída significa que ela existe apenas onde é desejada. Por exemplo, no início do ano, quando a produção parou na China, ela poderia ter sido adquirida por fábricas na Índia, Turquia, México, Portugal ou Brasil. A manufatura distribuída permite a resiliência da cadeia de suprimentos diversificando o risco geográfico, fornecendo acesso em tempo real aos clientes em uma ampla gama de mercados, reduzindo o impacto no transporte, evitando tarifas e criando empregos locais na manufatura.

Também possibilitaria medir o impacto ambiental de uma única peça de roupa e responsabilizar as empresas por reivindicações de sustentabilidade. Uma rede de milhares de nodes (nós) de fabricação seria inimaginável até cinco anos atrás. Mas agora, bilhões de contratos de blockchain gerenciados por redes neurais avançadas para controlar a fabricação e a entrega de pedidos de unidades individuais tornam isso possível.

Um retorno a uma indústria impulsionada pela criação

Hoje, devido aos mínimos de fabricação e material e ao tempo do fluxo de caixa, estar errado é muito caro para uma marca. Mas em um mundo em que o produto é produzido sob demanda em tempo real, nada depende do volume. Um criador pode projetar, vender e fabricar uma peça de roupa com a mesma eficiência que 1.000, sem riscos. Esta indústria poderia recuperar algo essencial que perdeu, sua alma.

A moda é uma indústria da arte, não da ciência. Perdemos isso quando falamos sobre design baseado em IA e análise baseada em aprendizado de máquina para previsão de tendências. Muito investimento em tecnologia da moda tem sido focado nas áreas de “mágica” realizadas por humanos talentosos – design, experiência e emoção – e não na área em que pode fazer a diferença: infraestrutura da cadeia de valor. Devemos usar a ciência para fortalecer a arte. Isto não é um sonho, é uma realidade hoje. Alguns investidores, fabricanntes e marcas de moda estão incubando e testando empresas focadas nessas arquiteturas inovadoras de tecnologia no momento.

Há um velho ditado: “Se você se encontra num buraco, pare de cavar”. É hora de parar de cavar. A mudança é dolorosa, mas com coragem da indústria e capital dos investidores, podemos usar essa crise para construir uma indústria da moda mais estável e responsável. Podemos oferecer mais oportunidades para marcas, varejistas, fabricantes, designers, trabalhadores, acionistas e comunidades. Preservar uma indústria quebrada, irresponsável, em um momento em que pudesse realmente mudar para melhor seria um desperdício de uma crise.

Exemplos de produção sob-demanda

Um exemplo do futuro da industria da moda é a empresa de Nova York, Resonance, que se utiliza de produção sob-demanda e inteligência artificial para disponibilizar produtos aos clientes em questão de dias. A empresa possui sua própria fábrica que produz roupas sob-demanda usando tecidos sustentáveis ​​e não tem quantidade mínima. Isso facilita a produção de peças de vestuário por um curto período de tempo, sem que elas tenham impactos negativos no meio ambiente.

Resonance ajuda pequenas marcas de moda a crescerem de foma rápida e sustentável

Quando a roupa não vende na loja, as empresas preferem queimá-la ou retalhá-la. O sob demanda é um método de fabricação mais limpo e mais eficiente que agrega valor a cada etapa do processo. A OnPoint Manufacturing (OPM), uma empresa americana de fabricação de vestuário sob demanda localizada em Florence (Alabama) adotou novas tecnologias de Indústria 4.0 visando tornar os EUA uma alternativa de fabricação mais interessante para as marcas americanas do que a China e demais países asiáticos.

OnPoint Manufacturing : Um modelo bem-sucedido de personalização sob demanda de roupas

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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