Quando se fala de moda ética e sustentável, o custo dificulta sua adoção em grande escala. É compreensível, pois a moda ética custa significativamente mais, colocando uma barreira financeira para uma enorme quantidade de pessoas. Eu discutirei as implicações sociais e os prós e contras do custo. Em termos de acessibilidade, não há dúvida de que a moda ética muitas vezes fica muito atrás da moda convencional.

Numa rápida visita ao site da gigante do fast fashion Primark você encontra uma calça skinny feminina por US$ 5,50. Marcas éticas simplesmente não podem competir com essas margens. Mas porque não? Por que a moda ética é mais cara? Se você pode comprar um vestido da H&M por US$ 69,99, por que pagaria US $ 278 por um vestido da marca sustentável Reformation? Não há uma resposta única, então vou dividi-la.

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Salários Justos

Quando você está vendendo uma calça por US$ 5,50, você está trabalhando com margens minúsculas. Em seu preço unitário, uma marca precisa fatorar tecido, fabricação, remessa, impostos e sua própria margem de lucro (sem mencionar todos os outros custos que não estão diretamente relacionados a uma peça como marketing, aluguel etc). Esses custos são todos agrupados em conjunto e não há orçamento separado para salários. Então, quando não há mais margem de manobra no custo do algodão, por exemplo, os salários são ainda mais reduzidos. Simplificando, você não pode vender uma calça por US$ 5,50 e pagar aos trabalhadores da fábrica um salário justo. As duas noções são mutuamente exclusivas.

As marcas éticas geralmente operam políticas salariais justas, tornando tais preços baixos uma impossibilidade financeira. Essas marcas acreditam que os trabalhadores devem receber salários justos e trabalhar num ambiente seguro e inclusivo. Todas essas qualidades que criam um ambiente de trabalho justo aumentam os custos, mas para as marcas éticas, os trabalhadores não são um ativo descartável. Ao invés de espremer os salários para aumentar suas próprias margens, as marcas éticas aumentam o preço de seus produtos para benefício dos trabalhadores.

Marcas éticas costumam trabalhar em estreita colaboração com empresas sociais para criar produtos artesanais de alta qualidade que podem ser rastreados até a fazenda. Para fazer a diferença na vida dos trabalhadores, elas pagam mais do que se estivessem trabalhando com uma fábrica de produção em massa.

Tecido e materiais

Enquanto empresas como a Primark podem fazer enormes encomendas de milhares de metros de tecido, empurrando o preço unitário ou o preço por metro para baixo, marcas menores ou marcas que não estão dispostas a criar resíduos devem encomendar lotes menores a um preço mais elevado. Além disso, a integridade do tecido entra em jogo.

O algodão orgânico, Tencel, as fibras naturais de qualidade e outras alternativas éticas são muito mais caras do que os tecidos baratos que têm uma história pregressa repleta de exploração das pessoas e do planeta.Tecidos éticos e ecologicamente corretos custam mais para produzir, mais para comprar por atacado e, inevitavelmente, custam mais ao cliente quando compram o produto final.

Remessa

O transporte marítimo é outro fator que se resume a lidar em quantidades menores. Enquanto uma rede de varejo ordena grandes encomendas, lidando com milhares ou milhões de unidades, uma marca ética que está comprometida tanto com a qualidade quanto com a quantidade e reduzindo o desperdício está lidando com números muito menores. Itens cuidadosamente elaborados ou tecidos orgânicos custam mais para comprar, e também custam mais para importar. Os pedidos em massa reduzem o custo por unidade e tornam a compra mais barata, o que significa mais barato para importar, mais uma vez colocando o fast fashion numa vantagem financeira.

Algo mais?

Muito, infelizmente. Enquanto as três questões acima foram as mais proeminentes entre as marcas de moda ética, uma infinidade de outros custos extras surgiram. De taxas de câmbio e tinta livre de produtos químicos a papel reciclado para etiquetas. Um negócio ético é uma coisa multifacetada. Não se trata apenas de usar tecido orgânico ou embalagens recicladas, é preciso uma abordagem holística para ser verdadeiramente ético e isso tem um preço.

Como eles podem competir?

Então, se o fast fashion tem vantagem financeira, como as marcas éticas competem? Bem, tudo é uma questão de comunicação pois a marca pode engajar e informar seu conteúdo pelas redes sociais e assessoria de imprensa, para educar e comunicar um valor além do preço. Essa abordagem, juntamente com uma dedicação à total transparência, incentiva a fidelidade e as vendas repetidas, que são essenciais para as marcas éticas.

Sim, a moda ética custa mais e sim, desde que haja alternativas baratas, há sempre alguém, em algum lugar, que a considera muito cara. Mas cada centavo extra representa um investimento no tratamento justo das pessoas, na proteção do nosso planeta, na criação de um consumo mais consciente. Os preços mais altos estão simplesmente cobrindo um salário digno e práticas ambientalmente responsáveis. Então, não são preços altos, apenas preços razoáveis. E talvez a verdadeira questão seja: “por que o fast fashion é tão barato?”

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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