O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo por causa da cafeína que é capaz de aumentar o vigor físico e combate ao sono, elevar o humor, diminuir a fadiga e aumentar a capacidade de trabalho. O grão de café é obtido da fruta da planta pertencente ao gênero Coffea. Duas espécies têm importância comercial: Coffea arabica e Coffea canephora robusta, conhecidas como arabica e robusta.

Mas o subproduto dessa deliciosa e energética bebida, a borra e a popa do café, são descartados sem cerimônia no lixo. Imagine se todos os resíduos de café que são jogados fora todos os dias pudessem ser reciclados e reintroduzidos no comércio como novos produtos sustentáveis gerando lucros e criando novas empresas e novos empregos?

A borra de café é um dos resíduos mais comuns, cerca de 14.000 xícaras de café são consumidas em todo o mundo a cada segundo, o que resulta em um total de 22 milhões de quilos de borra de café descartados todos os anos. Mas todo esse desperdício de matéria prima pode ser eliminado graças as novas tecnologias de reciclagem.

Felizmente, uma série de empresas de economia circular enxergam a borra de café como um excelente material sustentável por causa de seu baixo custo e pela facilidade de se obter os resíduos jogados fora pelas cafeterias, restaurantes e lanchonetes ao redor do mundo. A seguir vou apresentar algumas empresas que estão ganhando milhões com diversos produtos criados com resíduos do café.

Imaginem cidades alimentadas por borras de café? Isso é o que empresa de tecnologia limpa bio-bean está fazendo: sua premiada tecnologia lhes permite reciclar os resíduos do pó de café em biocombustíveis avançados que podem ser usados no lugar dos combustíveis fósseis para movimentar as cidades.

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Que maravilhas podem ser criadas com a desprezada borra de café? Na economia circular nada é lixo e sim um valioso recurso que pode ser reciclado em novos produtos.

A bio-bean é uma empresa premiada com sede em Londres e foi fundada pelo jovem empreendedor Arthur Kay, que estudava arquitetura e tentou imaginar o grande recurso que estava escondido no lixo produzido pelo nosso consumo diário de café. Essa é a primeira empresa a industrializar o processo de conversão das borras de café em biocombustíveis e bioquímicos sustentáveis no mundo.

Trabalhando na captação das toneladas de resíduos de café descartados por diversos estabelecimentos comerciais nas cidades inglesas, a bio-bean está desenvolvendo produtos de carbono-neutro que farão os combustíveis e produtos químicos fósseis obsoletos. Atualmente, sua fábrica de processamento é capaz de transformar 50 000 toneladas de resíduos de café em combustível por ano, o que representa 1 em cada 10 dos cafés bebidos a cada ano no Reino Unido.

Quando se trata de shampoo, as pessoas esperam algumas coisas como o cabelo limpo, perfume agradável e boa espuma. O que a maioria das pessoas provavelmente não esperam é que o seu frasco de xampu vazio pode um dia se transformar em uma árvore! A “Árvore em uma garrafa” chamado Recoffee foi criado pela empresa O’right sediada em Taiwan e é o primeiro bioplástico para frascos feito 100% de borras de café.

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As borras de café se transformam no bioplástico para frascos de xampu e condicionar que depois de plantados se degradam e viram uma árvore de café.

Depois que os consumidores utilizarem os frascos, eles podem plantar o recipiente vazio que vem pré-carregado com sementes de árvore de café em um plugue na parte inferior. Dentro de alguns meses, a garrafa vai biodegradar, e as sementes vão brotar em uma árvore. Não é fantástica a ideia?

O Recoffee é feito com 16 xícaras de borra de café. Adotando o conceito “do berço ao berço” da economia circular, a O’right fabricou o bioplástico extraindo o óleo com a borra de café reciclado recolhidos a partir das lojas Starbucks e outras lojas de café em Taiwan. Fantástico não? As empresas de economia circular são a vanguarda da indústria.

A startup alemã kaffeeform desenvolveu xícaras de café recicláveis feitas de borras de café. O designer alemão Julian Lechner está por trás da marca que combina borras de café usados ​​com resinas naturais para criar um novo material. Para se fabricar as xícaras de café primeiro são coletando as sobras dos cafés locais em Berlim. Depois as borras são combinadas com resinas naturais e partículas de madeira de fontes sustentáveis ​​para produzir um líquido que pode ser moldado por injeção para criar as xícaras reutilizáveis. Uma vez que a forma final é definida, o material é duradouro e pode ser usado repetidamente.

No pó de café existem compostos naturais como antioxidantes e cafeína que tem grande utilidade em produtos cosméticos e isso chamou a atenção do barista Hayden Thomson. Ele trabalhou em cafés, tanto na Austrália como no exterior, e percebeu quanto pó de café usado era desperdiçado em todo lugar. Sua solução foi transformar a borra de café em um produto cosmético.

Enquanto trabalhava numa cafeteria e completava seu mestrado em empreendedorismo e inovação na Universidade de Tecnologia de Swinburne, Hayden transformou sua ideia em um projeto de pesquisa e de negócios viável chamado Black Honey Skin Care. Para desenvolver seu negócio, a Black Honey fez uma parceria com cafés de Melbourne que estão usando caixas de descarte especialmente projetadas para recolher a borra de café.

Quando aplicado à pele, o Black Honey suavemente esfolia e remove as células secas da superfície, enquanto que os óleos essenciais nutrem e hidratam a pele. Hayden diz que a adição de óleos naturais ajudam na esfoliação e hidratação. O produto é natural e livre de microesferas que são um problema na indústria de cosméticos, pois as minúsculas bolas de plástico não biodegradáveis acabam indo direto do banheiro para os esgotos e depois poluindo os cursos de água, oceanos e ambiente marinho.

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E se a borra de café pudesse ser utilizada também na moda? A borra de café foi convertida numa inovadora linha de tecidos ecológicos por iniciativa do empresário Jason Chen, fundador da S.Café e Presidente da Singtex, uma empresa têxtil em Taiwan, que revolucionou a indústria têxtil reciclando os resíduos de café que iam parar no lixo para dar um impulso na tecnologia verde e na comunidade de moda sustentável. Beba-o e use-o esse é o slogan da S.Café. Veja toda a matéria neste link.

O café é um vício saudável pois tem baixas calorias, cheio de cafeína para revigorar o ânimo e antioxidantes que podem proteger contra doenças como a diabetes tipo 2, doença de Parkinson e doença hepática. No entanto, o revestimento vermelho do lado de fora do café, tem mais propriedades.

A casca e a polpa do café que são jogados fora depois de ser retirado o grão, é uma verdadeira super-comida repleta de antioxidantes. Esse fruto do café tem grande concentração de polifenóis que tem o poder de estimular o sistema imunológico, proteger contra os radicais livres e agir como um anti-inflamatório.

Os frutos da planta do café costumavam ser jogadas no lixo. Agora eles estão sendo usados para criar uma farinha nutritiva, saborosa que pode colocar sabor em tudo, desde massas a doces. aumentando a lucratividade do produtor rural de café que antes deixava o fruto apodrecer no campo depois de extraído o grão de café. Na economia circular não existe desperdício e tudo que é visto como lixo pode ser reaproveitado para se criar novas empresas, produtos e empregos.

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O fruto vermelho do café que antes era descartado pode ser utilizado na criação de produtos alimentícios.

Quando trabalhava como engenheiro na Starbucks, parte do trabalho de Dan Belliveau era olhar para os resíduos na fabricação. Durante a visita à uma empresa de suprimentos de café, ele começou a pensar sobre o problema das “cerejas vermelhas” de café. Os pequenos frutos que possuem os grãos de café que normalmente são jogados em enormes pilhas no lixo.

Um dos clientes da Belliveau tinha voltado de uma visita a uma fazenda e estava falando sobre o problema. Ele disse, “Eu estou literalmente até a cintura com os resíduos da polpa de café que estão apodrecendo em nossa propriedade. Tem que haver algo de útil que você possa fazer com esses frutos que não seja apenas alimentar os vermes.” E assim nasceu a ideia do Coffee Flour.

No campo pós a colheita, os fruto começam a apodrecer logo após retirado o grão de café e isso significava que eles nunca foram utilizados no passado. Embora às vezes são compostados, a maioria não é e os milhões de toneladas de grãos que alimentam o setor cafeeiro globalmente também significa bilhões de frutos desperdiçados. Belliveau resolveu o problema através do desenvolvimento de um novo processo de recolha  e reciclagem dos frutos.

A startup CoffeeFlour seca as frutas para moê-las em uma farinha, sem glúten, que pode ser usada em biscoitos, massas, chocolates e outros alimentos. Tem gosto de fruta e não de café, e pode ajudar a reduzir outros ingredientes, como açúcar. Grama por grama, tem mais ferro do que o espinafre, mais fibra do que o trigo inteiro, e mais potássio que as bananas, diz o empreendedor.

Um novo produto, uma barra de chocolate de Seattle Chocolate, usa a farinha de café para adicionar novos sabores ao mesmo tempo, trazendo mais sabor no chocolate em si por mascarar a amargura natural do chocolate. Para os produtores de café, ser capaz de vender a fruta pode fornecer um impulso na renda. A “cereja vermelha” que normalmente é um fardo para os agricultores por formar montanhas de resíduos depois de retirado o grão de café, agora pode ajudar os agricultores a ganhar uma grana extra. O que era lixo virou renda graças as novas tecnologias.

CoffeeFlour atualmente trabalha com produtores de café no Havaí, Nicarágua, Guatemala, México e Vietnã, mas espera expandir para mais de 40 países produtores de café em todo o mundo. Mas essa não é a única empresa que recicla o valioso fruto do café. A Coffeeberry compra de agricultores os resíduos agrícolas do café para transformá-los numa ampla gama de produtos alimentares, bebidas e cosméticos naturais e saudáveis.

Há também a KonaRed, uma empresa do Havaí que vende sucos nutritivos das frutas vermenlhas de café que sobram da produção do Kona Coffee, pagando aos agricultores locais pelos seus resíduos. Para criar a bebida, eles tomam os frutos vermelhos maduros após remover os grãos de café, e em seguida, os seca e processa usando o processo de extração patenteado FutureCeuticals, antes de misturar o líquido resultante com outros ingredientes naturais.

Esse post é dedicado aos empreendedores de economia circular que transformaram os resíduos do café que são vistos como lixo em novos produtos de alto valor agregado. O que foi feito com o café poderia também ser replicado em diversos tipos de plantas cujos valiosos resíduos orgânicos são descartados pelo comércio e pela indústria.

Só falta agora surgir os empreendedores com uma visão holística para criar novas empresas sustentáveis que reciclem as toneladas de produtos alimentares que estão sendo jogados fora todos os dias pelo mundo.  Quantos novos produtos, empregos e renda não poderiam ser criados?

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

5 Comentários

  1. Parabéns pelas enriquecedoras informações sobre sustentabilidade publicadas no site Stylourbano!!!!

    Tenho aprendido muito e socializado as novidades……..

    Obrigada
    Gabriela L.M. Schott

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