Depois do desabamento da fábrica de roupas Rana Plaza em Bangladesh em 2013, onde morreram 1127 pessoas, o mundo todo se deu conta dos problemas socioambientais causados pela forma insustentável que produzirmos e consumirmos moda. Foi a partir dessa tragédia que surgiu o movimento Fashion Revolution e outras organizações sociais que lutam para tornar a indústria da moda mais ética e sustentável.

A obsolescência programada tornou a indústria da moda a segunda mais poluente do mundo, o que atraiu a preocupação dos consumidores, empresas e governos em busca de soluções. Primeiramente foram criados os conceitos dos 3Rs da sustentabilidade que são: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, e que agora evoluíram para os atuais 5Rs: Reduzir, Repensar, Reaproveitar, Reciclar e Recusar, que estão explicados no gráfico abaixo.

Se os 5Rs foram aplicados adequadamente, o resultado implica numa enorme economia de água, energia, tempo, produtos químicos e matérias primas utilizados na produção de artigos de moda. Alem do fator ambiental os 5Rs também ajudam a melhor as condições de trabalho justo nas fábricas. Reduzir, Repensar, Reaproveitar, Reciclar e Recusar são o novo mantra da moda sustentável.

Conheça os 5 Rs da sustentabilidade para a indústria da moda circular stylo urbano

Até recentemente, a indústria da moda se baseou na economia linear do século 20 de “extração, fabricação e resíduos”. As matérias-primas são extraídas da terra (fibra de algodão; petróleo; polpa de madeira) e são transformadas em fibras, para então nós produzirmos peças de vestuário que serão vendias às pessoas que as usaram por um tempo até que eventualmente acabem nos aterros.

Na economia linear os recursos são desperdiçados e subvalorizados. A velocidade e escala desse fluxo linear de recursos tem sido sem precedentes, principalmente porque nós acreditamos que a compra de roupas nos faz felizes e é essencial para nossas identidades. Estamos simplesmente atrelando nosso bem-estar ao consumo de recursos materiais na forma de tecidos e fibras.

Mas felizmente as coisas estão mudando e agora estamos vendo um modelo totalmente novo baseado em princípios de economia circular. Em uma economia circular, os recursos são altamente valorizados e projetados desde o início para serem totalmente reciclados ou reutilizados. Marcas de moda suecas como a H & M e Houdini Outdoor Wear estão colocando lixeiras de reciclagem nas lojas para incentivar os clientes a doar suas roupas velhas.

A empresa, então, assume a responsabilidade de reciclá-las. A Dutch textile company adotou os princípios circulares através da reciclagem de roupas de trabalho, roupas hospitalares e roupas de desgaste industrial. A empresa têxtil holandesa descreveu muito bem o termo “Moda Circular” em seu site:

Trezentos anos atrás, a indústria têxtil foi pioneira na mentalidade e tecnologia que desencadeou a revolução industrial …. Hoje, a indústria têxtil está presa em um paradigma ultrapassado com consequências ambientais e sociais inaceitáveis. Chegou o momento para a indústria têxtil ser mais uma vez a pioneira no progresso e remodelar a forma como fazemos negócios. A economia circular é o caminho para isso. Se os resíduos podem ser transformados em recursos, viveremos em abundância”.

Várias iniciativas como o  ReLooping Fashion na Finlândia, a parceria Worn Again/Kering/H&M e o prêmio Global Change Award da H&M estão trabalhando para reciclar quimicamente as fibras têxteis usando solventes químicos para melhorar a qualidade e durabilidade de fios reciclados. As comunidades de investigação e inovação na Europa e no Reino Unido também são totalmente abraçando essas ideias. A segunda fase do consórcio de pesquisa MISTRA Future Fashion está explorando como a moda circular será aplicada na Suécia.

No Brasil, a tecelagem EcoSimple fabrica tecidos 100% reciclados para decoração e moda utilizando aparas de tecidos descartados pelas confecções e tecelagens e garrafas PET.

Outras iniciativas sobra moda circular são o Flanders Fashion InstituteClose the Loop e o Circular Fashion criado pela parceria entre a H&M e o Green Strategy. E em Novembro de 2016 acontecerá em Londres a primeira conferência do mundo chamada Circular Transitions sobre a concepção de moda circular e têxteis.

O termo “moda circular” baseia-se nos princípios de uma economia circular e envolve todo o ciclo de vida dos produtos, desde sua concepção e pesquisa até a produção, transporte, armazenamento, marketing e vendas, passando depois pela fase de utilização incluindo a reutilização, reparação e finalmente a reciclagem ou eliminação do material. Moda circular é uma visão inovadora que repensa todas as partes da indústria da moda e sua cadeia de produção.

Mas será que isso vai significar o fim do modelo hiper-consumista do fast-fashion ou vai ser apenas uma melhoria na fabricação de tecidos, roupas e acessórios de forma mais ética e sustentável para acompanhar as novas exigências dos consumidores? De qualquer modo, esse é o momento mais emocionante da indústria da moda pois o modelo de moda circular promete uma nova forma de concepção, produção e reutilização de moda que será muito mais benéfico para o planeta e para todos nós.

 

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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