O algodão está absolutamente em todos os lugares, de sua camiseta aos seus cotonetes. Embora seja uma fibra à base de plantas, é uma das culturas que mais consomem água no mundo, e também uma das mais pulverizadas com pesticidas. O algodão é cultivado comercialmente em cerca de 80 países utilizando 3% das terras aráveis ​​do mundo, o que o torna um dos mais significativos de todos os cultivos comerciais.

A demanda global por fibras têxteis naturais e artificiais deverá se expandir em 84% entre 2010 e 2030, devido ao crescimento da população e ao aumento no consumo de fibra per capita como resultado do aumento da renda nos países em desenvolvimento. Mas a produção global de algodão irá atingir um teto por falta de mais terra agrícola, e a demanda adicional por fibras terá que ser atendida por fibras sintéticas e artificiais, fibras que servem para alimento e têxtil (cânhamo) e fibras de resíduos agrícolas.

Como os resíduos agrícolas se tornam moda

Mas há boas notícias no horizonte da moda. Até 2020, a demanda total mundial por fibras têxteis será de 102,4 milhões de toneladas. Transformar resíduos agrícolas, que são descartados no campo ou queimados pelos agricultores após a colheira, em novas matérias primas de alto valor é o futuro da indústria têxtil sustentável, pois une as duas necessidades básicas humanas: alimento e tecido.

Uma única cultura pode fornecer tanto alimento como fibra têxtil, diminuindo consideravelmente a poluição ambiental e o desperdício de biomassa. E quais resíduos agrícolas tem potencial para a industria têxtil? Alguns deles seriam as fibras extraídas das folhas do abacaxi, pseudocaule da bananeira, palha do milho, cascas do coco verde e cacho vazio de dendê. Ambas culturas são largamente cultivadas no mundo todo. O que possibilitará o uso de toneladas desses resíduos pela industria têxtil são as tecnologias empregadas no processo. Veja alguns exemplos aqui, aqui e aqui.

O crescimento da população exigirá mais alimentos e têxteis

O PIB mundial é dez vezes maior que há 50 anos e a população mundial dobrou. Espera-se que mais 3 bilhões de pessoas ingressem na classe média entre 2010 e 2030, e todas elas irão consumir mais alimentos e tecidos. Teremos que alimentar e vestir uma população global de nove bilhões de pessoas (dois bilhões a mais do que nossa população atual) até 2050. A urgência será disponibilizar mais terras para cultivar alimentos e não algodão.

Além do crescimento populacional, as necessidades de alimentação e vestuário aumentarão devido ao aumento da renda das pessoas nos países em desenvolvimento, à medida que passam da baixa renda para a classe média. À medida que a renda aumenta, as pessoas tendem a consumir mais.

Figura 1. População Mundial (1965 – 2050)

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) precisamos aumentar a produção em 70% até 2050 para atender às necessidades alimentares mundiais. As projeções da FAO indicam que o mundo deve ser capaz de atender à demanda de alimentos e ração em 2050. Isso pode ser feito com taxas realistas de uso da terra, uso da água e aumentos de produtividade, embora haja desafios ao longo do caminho. No entanto, a FAO projeta que a demanda por alimentos dobrará até 2050.

A Figura 2 mostra a história da demanda global de fibras em milhões de toneladas e demonstra o papel dominante que o poliéster teve no crescimento dessa demanda. O gráfico também mostra o domínio contínuo do poliéster daqui para frente, calculado pela PCI Fibers com sede na Inglaterra. A demanda de poliéster ultrapassou a do algodão em 2002 e continuou a crescer a uma taxa significativamente mais rápida que todas as outras fibras.

Figura 2. Consumo mundial de fibras (1980 – 2030)

A cultura do algodão está atingindo seu teto, para não disputar com a produção de alimentos por mais terra e água. Em 1960, a população mundial era de três bilhões e o consumo de algodão totalizava 9,4 milhões de toneladas – 3,14 kg per capita. Em 2015 e o consumo global é de 22,5 milhões de toneladas para uma população de 7,4 bilhões – 3,4 kg por cabeça, mas o algodão agora representa apenas 26% do consumo global de fibras. Das duas uma, ou começamos a utilizar fibras de resíduos agrícolas para produção têxtil ou seremos engolidos por milhões de toneladas de fibras de poliéster.

Ao utilizar resíduos agrícolas na indústria têxtil, não precisamos de mais terra, água e insumos para crescer fibra. Aproveitamos os recursos já gastos no cultivo da planta que fornecerá alimento. A utilização dos resíduos na criação de têxteis para moda é um sistema de “ganha-ganha” onde os agricultores ganham, as empresas ganham, os consumidores ganham e a natureza ganha. Ao utilizar resíduos em novos têxteis temos a seguinte situação de “ganha-ganha”:

• Os agricultores poderão lucrar com os resíduos, em vez de descarta-los;
• Fornecer uma nova matéria prima sustentável para a indústria têxtil e vestuário;
• Menos resíduos serão queimados ou descartados gerando menos poluição;
• Há menos demanda por combustíveis fósseis para fabricar tecidos sintéticos e menos demanda de produtos químicos para produção de algodão;
• Incentivo ao crescimento da bioeconomia circular;
• Utilização de tecnologias de produção e processamento amigas do ambiente;
• Não há necessidade de mais terra, água, pesticidas ou fertilizantes para crescer as fibras.

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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