O México está lutando contra o que chama de plágio de têxteis indígenas, reunindo artesãos tradicionais e designers internacionais para um diálogo que visa a criação de uma indústria da moda mais justa. Dezenas de tecelões indígenas e outros artesãos estão se reunindo neste fim de semana na antiga residência presidencial de Los Pinos, na Cidade do México, para a feira “Original”, patrocinada pelo Ministério da Cultura.

Ao lado de uma feira ao ar livre que vende roupas e acessórios como o huipil, tradicional blusa de algodão branco com motivos finamente bordados, acontecem desfiles de moda que lembram marchas do orgulho indígena. O objetivo é acabar com o que o governo mexicano denuncia como apropriação cultural de motivos, bordados e cores de comunidades indígenas por grifes estrangeiras como o da foto.

O plágio não é uma homenagem. Roubo não é fruto da inspiração”, disse a ministra da Cultura, Alejandra Frausto, na inauguração da feira. Ela denunciou os “piratas modernos” que “pegam o que gostam e rotulam como qualquer tipo de mercadoria”. Várias marcas de moda de luxo e de fast fashion foram denunciadas por plagiar o trabalho de artesão mexicanos, sem dar nada em troca. Veja alguns exemplos:

O México acusa Carolina Herrera de plagiar têxteis indígenas: foi roubo ou inspiração?

Marca australiana Zimmermann plagia tecido mexicano e vende por US $ 850

México reclama da Louis Vuitton por plagiar design indígena em poltronas no valor de milhares de dólares

Pela segunda vez, Isabel Marant é acusada de plagiar designs mexicanos

Michael Kors é acusado de roubar um design tradicional de suéter mexicano depois que modelos aparecem na passarela da NYFW vestindo roupas idênticas às vendidas nos mercados mexicanos 

Falta de comunicação

O México ganhou um pedido de desculpas há um ano da designer francesa Isabel Marant, depois que Frausto exigiu uma explicação para o uso de Marant dos padrões tradicionais da comunidade Purepecha em sua coleção. Queixas semelhantes foram apresentadas contra grandes marcas de roupas, incluindo Zara e Mango.

Marant disse que os projetos futuros “prestariam uma homenagem adequada às nossas fontes de inspiração”. Um representante de sua empresa deveria se encontrar diretamente com artesãos indígenas na feira da Cidade do México, assim como aconteceu com a estilista espanhola Agatha Ruiz de la Prada.

Doi jovens designers de Paris visitaram o artesão Ignacio Netzahualcoyotl e seu parceiro Christian Janat em sua oficina no estado de Tlaxcala, a leste da Cidade do México. “O plágio é resultado da falta de comunicação”, disse Netzahualcoyotl depois. “Pedimos que nosso trabalho seja pago de forma justa”, acrescentou.

“O preço deve levar em conta o design, os padrões, o número de horas trabalhadas”, disse ele após apresentar seu tecido aos dois parisienses. “Queremos chegar a um acordo com os artesãos com quem vamos trabalhar”, disse o designer francês Theophile Delaeter, co-criador da marca Calher Delaeter com seu co-criador franco-mexicano Alonso Calderon Hernandez.

Os artesão mexicanos reclamam que marcas internacionais faturam milhões copiando seus designs sem dar nada em troca. Não foi o caso do designer de sapatos Christian Louboutin que lançou uma nova linha inspirada nas raízes mexicanas. O icônico designer francês viajou para a Península de Yucatan no  México para criar junto com as artesãs locais sua nova bolsa: The Mexicaba.

O trabalho foi feito com as mulheres do Taller Maya, uma fundação criada para preservar o artesanato tradicional local e assim, garantir o empoderamento econômico a longo prazo do antigo artesanato maia. A união entre um refinado designer de sapatos com o rico trabalho dos artesãos mexicanos, só pode resultar numa obra de arte.

É roubo

Artesãos indígenas que participaram da feira reclamaram de terem descoberto cópias de seus tecidos na internet. “Alguns meses atrás, nós brigamos porque encontramos um huipil reproduzido por computador”, disse Candy Margarita de la Cruz Santiago, uma jovem tecelã do estado de Oaxaca, no sul do país. Medidas legais estão sendo postas em prática para resolver o problema.

“Sob as novas disposições que temos desde o ano passado, o consentimento por escrito das comunidades é necessário quando esse tipo de arte têxtil vai ser usado com fins lucrativos”, disse um representante do Instituto Nacional de Direitos Autorais, Marco Antonio Morales Montes.

O México também está pedindo uma discussão dentro da Organização Mundial de Propriedade Intelectual sobre o assunto, acrescentou. Tecelãs esperam não apenas reconhecimento de seu trabalho mas denunciar os autores de plágio.

Artigo anteriorEcco Leather lança novo couro de desempenho técnico para vestuário
Próximo artigoArcebispo Carlo Maria Viganò conclama aos povos se unirem numa aliança mundial anti-globalista
Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.