Nos últimos meses, várias grifes importantes anunciaram que suas coleções passarão a ser “livres de pele” e as ONGs defensoras dos animais como o PETA, têm sido rápidas em dizer que isso é uma mudança fundamental nos valores sociais, o surgimento de princípios de marketing mais éticos e o fim iminente da indústria de peles. O comércio de peles de animais moderno é um excelente exemplo de sustentabilidade ambiental pois só utiliza recursos renováveis (plantas e animais) em vez de recursos não-renováveis (sintéticos à base de petróleo).

E devemos usar esses recursos renováveis de forma sustentável, ou seja, não mais rápido do que a natureza pode repor o fornecimento. O comércio de pele selvagem é altamente regulado, nacional e internacionalmente, para garantir que se utilize apenas uma pequena parte dos animais mais abundantes e nunca espécies ameaçadas de extinção. Esse casaco da Maison Margiela não é feito de pele natural mas de pele sintética, que é mais “ético e sustentável” segundo John Galliano, o diretor criativo.

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Pressionadas pela histeria do PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais) que se diz “protetora dos animais”, algumas marcas de moda famosas estão abandonando o uso de materiais biológicos provenientes de animais. A mais recente a fazer isso foi a rede de fast fashion ASOS, que anunciou atualizações em sua política de bem-estar animal, dizendo que até janeiro de 2019, deixará de produzir e estocar produtos feitos de seda, mohair, penas e cashmere. Isso se soma às proibições anteriores de peles de angorá e de coelho e produtos que usam materiais de animais. A Zara, H & M e Topshop estão indo para o mesmo caminho.

A Chefe de Comunicações da ASOS, Qiulae Wong, fala sobre a decisão da empresa em proibir a venda de produtos contendo componentes de origem animal em seu site. Os produtos que contenham penas e penugem, ossos, dentes e conchas (incluindo madrepérola) não serão mais vendidos no site tanto de sua marca própria como marcas de terceiros. E todos esses materiais feitos pela natureza serão substituídos pelo quê? Materiais sintéticos baratos feitos de petróleo? O PETA é claro apoiou a iniciativa da ASOS.

Grifes famosas como Stella McCartney, Hugo Boss, Armani, The Kooples, Gucci, Net-a-Porter, Michael Kors, Tom Ford, Versace e Maison Margiela anunciaram que não usarão mais peles naturais em suas coleções substituindo-as pelo quê? Peles falsas de poliéster que levam centenas de anos para se degradar e poluem o meio ambiente. John Galliano, diretor criativo da Margiela, tomou a decisão após um encontro casual com o vice-presidente do PETA, Dan Mathews.

Essas marcas alegam que a tecnologia avançou tanto que não precisamos mais usar peles, couro e materiais feitos de animais, pois existem alternativas luxuosas. A verdade é que essas alternativas não substituem a engenhosidade da maior designer de todas, a natureza. O natural sempre será superior ao artificial. A razão mais comum citada pelas marcas de moda em parar de usar pele é a preocupação com a matança de animais.

Esta pode ser uma decisão ética legítima, especialmente se você é um vegano e não come carne ou usa qualquer produto de origem animal. Mas a grande maioria das pessoas gostam de carne e de couro/pele. E a maioria das grifes “livre de pele” continuam a usar couro bovino, pele de carneiro, cobra, ema e jacaré. Esses materiais naturais sempre foram utilizados na indústria do luxo pela sua beleza e resistência.

Será que é verdade que a moda deve abandonar as peles de animais para ser mais sustentável stylo urbano

A pele é um material de extrema longa duração: um casaco de vison de boa qualidade, muitas vezes, pode ser usado por 30 anos ou mais. Além disso pode ser desmontado e completamente remodelado, ou transmitido às filhas e sobrinhas para ser usado como peça vintage. Casacos de peles antigos também são reciclados para fazer coletes, acessórios, ou mesmo travesseiros. Finalmente, depois de muitas décadas de uso, a antiga pele pode ser enterrada no jardim, onde vai rapidamente se biodegradar.

Já as peles falsas e outros produtos sintéticos à base de petróleo, não são usados ​​por muitas temporadas (são descartáveis como o “fast fashion”), e como outros plásticos, vai contaminar o ambiente sem biodegradação. Pior, esses produtos sintéticos lançam microfibras cada vez que eles são lavados e vão parar nos rios e oceanos, contaminando espécies marinhas e nossa cadeia alimentar. Se estamos preocupados com os animais e o ambiente, trocar o natural por falsificações não é uma escolha sábia. O que vale para a pele também vale para o couro e outros materiais.

 

O PETA e outras ONGs querem não só acabar com o uso de peles na moda, mas também o uso de penas, couro, seda, mohair, caxemira, lã, conchas, madrepérola e ossos. E como vamos substituir esses materiais naturais e biodegradáveis? Em vez de criminalizar toda uma indústria pelos abusos cometidos contra animais por alguns fornecedores de peles e couro na China e outros países asiáticos, as marcas de moda deveriam exigir mais transparência dos seus fornecedores da mesma forma que exigem das tecelagens, tinturarias e lavanderias.

A América do Norte e a Europa são grandes produtores de pele e couro, e tem leis rígidas contra abuso de animais em criadouros. Já o Brasil é um dos maiores produtores de couro do mundo, e as leis ambientais do país são bem rigorosas. A Certificação de Sustentabilidade do Couro Brasileiro aplica na indústria de curtumes o conceito do tripé da sustentabilidade, procurando reduzir o impacto ambiental inerente dessa atividade e proporcionando melhores condições de trabalho aos funcionários e respeitando a comunidade na qual as empresas estão inseridas.

O PETA quer acabar com todo uso de animais

As reivindicações do PETA sobre peles de animais não são credíveis, porque a organização não está interessada em maneiras mais humanas para capturar ou matar animais que são utilizados pelos cortumes. O PETA se opõe a qualquer uso de animais, mesmo para alimentos ou pesquisa médica, mas é acusada de matar em média 85,2% dos cachorros e gatos que recebe em seu abrigo de animais na Virginia/EUA.

O PETA quer que todo mundo use materiais sintéticos, a maioria dos quais são derivados do petróleo, um recurso não renovável e altamente poluente. Isto é fundamentalmente anti-ecológico. O comércio de peles moderno, pelo contrário, é um excelente exemplo do uso sustentável dos recursos naturais renováveis ​​(e biodegradáveis), um princípio ecológico chave que agora é promovido por todas as autoridades de conservação.

Ninguém é obrigado a usar peles, couro, seda, lã e outros materiais oriundos de animais, mas muitos de nós apreciamos a beleza desses materiais naturais de alta qualidade. Devemos substituir as peles, penas, couro, seda, mohair, caxemira, lã, conchas, madrepérola e ossos por versões de plástico ou outros materiais inferiores para agradar o PETA?

Num post anterior falei sobre a International Fur Federation que lançou um vídeo de contra-ataque no youtube, afirmando que as peles naturais não tem impacto ambiental, ao contrário das peles sintéticas, cuja produção é caracterizada por “uma série de custos ambientais ocultos”. Para saber mais sobre peles e couro natural acesse o Truth about Fur e We are Fur.

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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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