Será que a reciclagem dos resíduos têxteis é a próxima fronteira da moda sustentável? Com certeza esse seria um passo necessário para fechar o ciclo na indústria têxtil, mudando-a de uma economia linear predatória para uma economia circular eficiente. Os seres humanos são a única espécie no planeta que criam resíduos, e as toneladas de lixo que criamos anualmente foi ampliado pelo aumento da revolução industrial.

O que precisamos fazer urgentemente é manter essas toneladas de resíduos sob controle e reciclá-los sempre que possível. Só no Brasil, 95% dos resíduos vão parar nos aterros. Existem dois tipos de resíduos criados quando você compra um produto. O resíduo de pré-consumo que é desperdiçado no processo de fabricação de um item para venda e consumo. O resíduo de pós-consumo que é o que sobra depois de consumir o produto adquirido: a embalagem, o próprio item, ou outros itens que sobraram.

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Os resíduos que criamos podem gerar uma fonte infinita de recursos sem sobrecarregar o meio ambiente. Em 30 anos, devido ao crescimento das redes de fast fashion, o consumo de moda cresceu 400% no mundo todo e isso gerou toneladas de resíduos têxteis.

No século XXI, quem segue a vanguarda da moda sabe que a sustentabilidade é o único futuro possível num mundo que enfrenta cada vez mais problemas de falta de água e de recursos naturais. A marca espanhola Ecoalf faz um incrível trabalho de reciclagem de materiais para criar coleções de moda sustentáveis e modernas.  O último projeto da marca foi o Upcycling the Oceans criado para limpar os oceanos dos resíduos plásticos, em pareceria com pescadores.

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Lembrando que foram gastos toneladas de água, energia elétrica e matéria prima para a fabricação de produtos cujos resíduos foram parar no lixo. Isso não é racional. Por isso grandes empresas de moda estão cada vez mais investindo em novas tecnologias sustentáveis para resolver de uma vez o problema da reciclagem de toneladas de roupas e tecidos que são descartados todos os anos. O concurso internacional de economia circular Global Change Award 2015 criado pela H&M é uma dessas iniciativas.

De acordo com Annie Leonard da série “A história das coisas”, gasta-se em média 70 latas de lixo nos materiais pré-consumo que fizeram parte dos itens que você joga fora em sua lata de lixo a cada semana. É apenas lógico pensar que os resíduos que criamos podem gerar uma fonte infinita de recursos sem sobrecarregar o ambiente ainda mais.

Em termos de materiais têxteis, o poliéster se tornou o tecido número um fabricado no planeta. É um produto à base de petróleo, que responde por cerca de 2%  do consumo mundial de petróleo. Como o barril de petróleo está super barato hoje, o consumo de tecidos de poliéster aumentou e ajudou a diminuir o consumo de algodão.

Mas as roupas e tecidos sintéticos não são biodegradáveis como os tecidos naturais ou artificiais, assim precisam ser reciclados para não contaminar o solo. O algodão é o segundo tecido mais utilizado no planeta, e é um produto muito dependente da água. Gasta-se 2.900 litros para fabricar uma simples camisa de algodão comum e 1 quilo de jeans exigiria cerca de 11.800 litros. Em comparação aos 400 a 715 litros de água que se gasta para fazer uma camiseta de algodão orgânico.

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Um exemplo do impacto ambiental da produção de algodão pode ser encontrada no Mar de Aral , na fronteira do Cazaquistão e Uzbequistão. No passado ele foi o quarto maior lago de água doce do planeta. Agora, ele está 90% seco, porque seus afluentes foram desviados para irrigação do cultivo de algodão. Basta dizer que, quanto menos água doce tivermos no mundo,  teremos também menos acesso ao algodão.

Uma fábrica média de roupas joga fora cerca de 27.215 Kg de materiais de pré-consumo a cada semana. Isso inclui fios, botões, aviamentos e retalhos de tecidos que sobram depois de um produto é feito. A economia circular visa dar um novo uso a esses resíduos e os usar eficientemente para criar novos produtos que podem ser reciclados na cadeia produtiva de moda criando novos tecidos e materiais.

Os dias da moda descartável devem terminar se realmente desejamos criar produtos sustentáveis. Então, se é preciso transformar todos os resíduos de materiais descartados em novos materiais para a moda, então sim, os resíduos têxteis realmente são a próxima fronteira de moda sustentável. Vamos chegar lá juntos.
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Renato Cunha
O blog Stylo Urbano foi criado pelo estilista Renato Cunha para apresentar aos leitores o que existe de mais interessante no mundo da moda, artes, design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, arquitetura, decoração e comportamento.

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